terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O CICLONE II

Desde muito pequeno que me lembro de naquelas noites de inverno, com muita chuva e vento, ouvir o meu pai dizer que tudo aquilo comparado com o ciclone não era nada.
O ciclone, o ciclone!...
De vez em quando lá vinha a palavra ciclone, o bicho mau que assolou a Serra de Sintra, tendo levado tudo ou quase tudo, que encontrou no seu caminho. Estava-se então no ano de 1941, e não na década de cinquenta como erradamente já ouvi falar na televisão.
Aquelas eram as histórias dos velhos serões em família, em que depois do jantar se ouviam as notícias da antiga Emissora Nacional, mais o folhetim, que tinha o nome e bem, de Teatro Radiofónico,  interpretado por grandes nomes da cena portuguesa, era o refúgio dos atores à época, como hoje se refugiam nas telenovelas.
Após a audição, o máximo 22h já estava tudo recolhido.
Na altura as lenhas tinham muito valor, porque o gáz era uma miragem, a maioria dos sintrenses, e dos portugueses em geral, tinham as antigas, e, celebérrimas máquinas a petróleo da Casa Hipólito de Torres Vedras, e os fogões a lenha que muitas vezes estava aceso de manhã à noite, que além de fazer a comida tinha a missão de aquecer a casa. Por isso a madeira era um combustível com muito gasto, e, também muito o carvão.
Fizeram-se grandes fortunas com este desastre natural. Os madeireiros sempre bons negociantes, compravam a lenha de um hectar, que teria "x" ester´s, e, levavam o dobro ou o triplo, com uma nota de cem ou cinquenta escudos (era dinheiro), ninguém os importunava.
Passados sessenta e alguns anos, eis que o país de Norte a Sul, foi varrido por essa força da natureza, que mais uma vez escolheu as àrvores que tanta falta nos fazem, como a sua principal vítima.
Sintra e a sua magestosa serra está irreconhecível, já muito se disse escreveu e filmou, sobre o tema, mas a mim dói-me particularmente, o facto de os Parques, em especial o da Pena, apresentar tal estado de degradação devido ao fenómeno natural que o esventrou.
De realçar sobretudo o azar que foi uma dessas árvores com a sua queda, ter destruído todo um trabalho meritório que estava a ser feito na recuperação do Chalet da Condessa de Edla.
Felizmente tive oportunidade de lá ter estado este verão e levar a minha filha e netas, para que podessem apreciar tal beleza.


 
 
 
Agora quando haverá verba para reparar o que já estava reparado, ficou num estado de destruição tal, que só muito boa vontade e verbas vindas de não sei onde, poderão repor tudo, porque os trabalhos ainda não haviam terminado.

2 comentários:

  1. Sou da mesma idade, e sempre ouvi também estes comentários, com o relevo do meu avô materno,ser mestre florestal, à época guarda florestal,e contar verdadeiras aventuras, desde saques que eles, autoridades florestais, tinham que controlar.
    Achei muito interessante, o facto do bloguista, que tem uma imensa memória e conhecimentos do passado Sinteense,se tenha interessado por este tema, que tanto prejuízo fez na linda, diversificada e antiga flora da nossa Serra.
    M.M.M

    ResponderEliminar
  2. Que pena!
    Gostei das fotografias porque não tiver oportunidade de visitar o Chalé depois das obras.
    A minha mãe e a minha avó falavam muito do ciclone. Foi de facto nos anos 40, a minha mãe ainda era solteira e morava em Algés (onde nasci); foi no dia 15 de Fevereiro, dia dos anos do meu avô querido.
    Foi um desastre em grande, dizem.

    ResponderEliminar